08 fevereiro 2014

antónio ramos rosa / o ponto de partida



Será este o ponto de partida, obscuridade incerta
e sobre o fundo sombrio da morte? A esperança
nascerá deste branco vazio e desta mão de cinza?
O viajante entrou num barco ou numa árvore
que o soergue, ainda hesitante, na imensidade
de uma sombra de astro. Ele aproxima-se
de formas vagas, de espelhos entre pedras,
e junto a um muro sob as estrelas
uma figura de orvalho descalça sobre as ervas.
Tudo flutua ainda, dentro da poeira azul
e púrpura e tudo está esparso e reunido
como na primeira consciência deste mundo
tão longínquo e tão presente como se o sol fosse um perfume
que da montanha descesse sobre as palavras ditas.


antónio ramos rosa
acordes
quetzal editores
1990


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