Quem, como eu, sofre porque uma nuvem passa diante
do sol,
como não há-de sofrer no escuro do dia
sempre encoberto da sua vida?
O meu isolamento não é a busca da felicidade,
que não tenho alma para conseguir;
nem de tranquilidade, que ninguém obtém
senão quando nunca a perder,
mas de sono, de apagamento, de renúncia pequena.
As quatro paredes do meu quarto pobre são-me,
ao mesmo tempo, cela e distância, cama e caixão.
As minhas horas mais felizes são aquelas em que não
penso nada,
não quero nada, não sonho sequer,
perdido num torpor de mero musgo
que crescesse na superfície da vida.
Gozo sem amargor a consciência absurda de não ser
nada
ante o sabor da morte e do apagamento.
fernando
pessoa
livro do
desassossego
por bernardo
soares
ática
1982
Livro para ter na cabeceira e comungar as palavras todos os dias....
ResponderEliminarMto bom estar aqui te visitando!
Espero vc no meu Blog que tb fala de prosas e poesias....
Bjins literários,
Simone Guerra
http://paracruzaroatlantico.blogspot.com.br/