15 novembro 2013

pedro spigolon barbosa / a muralha



               “Construímos muralhas por todos os lados
               para que o olhar não sofresse de imensidão”
               – Tiago Fabris Rendelli


Ergueram uma muralha no horizonte
de nosso coração enraizado.
Por todos os lados
as pedras tapam
a imensidão furtada
de tuas raízes soníferas.
Onde estará a vastidão do mundo
já que tu és tão pequeno?
Tu és tu mesmo quando repousas
o peso da miséria na piedade de terceiros?
Tu és tu mesmo quando
persegues o crepúsculo de tua hora
numa ânsia nem do dia nem da noite?
Quando rodeias em dança
a cabeça do Batista
festejando o esquartejamento
dos santos no século?
Quando te vingas dos pássaros
que escrevem no céu
teu nome conjugado
com a morte?
Quando vais ao mercado
ofertar teu sexo de máquina por
                     Bananas nanicas?
Quando beijas alguém não por paixão
mas para povoar, num desespero,
teu atiçado desejo miserável?
Tu és tu mesmo quando o sono
quebra teu dente
e numa fome de sonâmbulo
te empanturras das fatias lazarentas
de teu espirito moderno?
Tu és tu mesmo
quando te omites de ti?
Quando te afugentas da febre
que amanhece tua alma trancafiada?

[Fresta]

(Que paixões cantam os pássaros
para além desses muros?
De que brincam as crianças
que correm por essa vastidão?
Quais as novas cores
desse céu de aquarela?
Que desenhos rabiscam
as nuvens de lá?)
Ide! Eu sou a Dinamite
A dilacerar teus estreitos limites
A predar a pedra
que edifica tua ninharia
A lançar veredas
que te lavem os olhos.
Se Crer, há de despertar
e levantar quando ouvir:

“— Lázaro, vem para fora”.




pedro spigolon barbosa
euOnça
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editora medita
2013



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