27 outubro 2013

allen ginsberg / uivo por carl solomon (fragmento)



I

  Eu vi as melhores mentes da minha geração destruídas pela loucura, esfaimadas
  histéricas despidas,
  arrastando-se através das ruas dos negros ao alvorecer em busca de uma dose
  enfurecida,
  hipsters de cabeça de anjo ardendo pela anciã ligação celestial ao
  dínamo de estrelas na maquinaria da noite,

  (...)

  que morderam detectives no pescoço e guincharam com deleite em carros da polícia
  por terem cometido nenhum crime a não ser a sua própria pederastia falsificada e intoxicação,

  que uivaram de joelhos no metro e foram arrastados para fora do tejadilho
  acenando genitais e manuscritos,

  que se deixaram ser fodidos no rabo por motociclistas santificados, e
  gritaram de prazer,

  que brocharam e foram brochados por aqueles serafins humanos, os marinheiros,
  carícias do Atlântico e amor Caraíbeano,

  que deram cambalhotas de manhã nas tardes em roseirais e na relva
  de jardins públicos e cemitérios disseminando livremente o seu sémen a

  quem quer que viesse que fosse possível,

  que soluçaram sem fim tentando rir sem motivo mas que acabaram com um soluço
  atrás de uma divisória num Banho turco quando o anjo louro & despido veio para os atravessar com uma espada,

  que perderam os seus rapazes de amor para as três velhas víboras do destino a víbora
  zarolha do dólar heterossexual a víbora zarolha que pestaneja para fora
  do útero e a víbora zarolha que não faz nada senão sentar-se no seu
  rabo e cortar os dourados fios intelectuais do tear do artesão,

  que copularam estática e insaciavelmente com uma garrafa de cerveja uma namorada
  um maço de cigarros uma vela e caíram da cama abaixo, e
  continuaram pelo chão fora e através do corredor e terminaram desmaiando na
  parede com uma visão de cona derradeira e vieram-se eludindo a última
  fase de consciência,

  que fizeram transpirar as rachas de um milhão de raparigas estremecendo no
  pôr-do-sol, e que estiveram de olhos avermelhados na manhã mas preparados para fazer transpirar a racha do nascer-do-sol,
  exibindo as nádegas ao abrigo dos celeiros e despidos no interior do lago,

  que se foram prostituindo pelo Colorado numa miríade de carros nocturnos roubados,
  N.C., herói secreto destes poemas, homem-picha e Adónis de Denver--júbilo à
  memória das suas inúmeras raparigas deitadas em parqueamentos vazios & quintais traseiros de restaurantes,
  nas filas de assentos das casas de cinema, nos topos de montanhas em grutas
  ou com empregadas de mesa delgadas de saia levantada na borda solitária da estrada familiar & solipsismos de retretes
  na estação de serviço especialmente secreta, & também becos da cidade berço,

  que se esvaíram em vastos filmes sórdidos, foram alterados em sonhos, despertaram
  numa súbita Manhattan, e se pegaram a si mesmos ao colo para fora da cave
  de ressacas com Tokay implacável e horrores de sonhos de ferro de Third Avenue & tropeçaram para agências de desemprego,

  que caminharam toda a noite com os seus sapatos cheios de sangue na margem
  coberta de neve das docas esperando que uma porta no East River se abrisse para uma sala cheia de vapores quentes e ópio,

  que criaram enormes dramas suicidas no apartamento dos bancos íngremes na
  margem do Hudson debaixo da luz azul diluviana da lua do tempo de guerra
  & as suas cabeças serão coroadas de louro no oblívio,

  que comeram o guisado de cordeiro da imaginação ou digeriram o caranguejo no
  fundo lamacento dos rios da Bowery,

  que choraram perante o romance das ruas com os seus carrinhos de mão cheios de
  cebolas e música de má qualidade,
  (...)


  

  allen ginsberg


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