Gárgula.
Por dentro a chuva que a incha, por fora a pedra misteriosa
que a mantém suspensa.
E a boca demoníaca do prodígio despeja-se 
no caos.
Esse animal erguido ao trono de uma estrela, 
que se debruça para onde
escureço. Pelos flancos construo 
a criatura. Onde corre o arrepio, das espáduas 
para o fundo, com força atenta. Construo 
aquela massa de tetas
e unhas, pela espinha, rosas abertas das guelras, 
umbigo, 
mandíbulas. Até ao centro da sua 
árdua talha de estrela. 
Seu buraco de água na minha boca. 
E construindo falo. 
Sou lírico, medonho. 
Consagro-a no banho baptismal de um poema.
Inauguro.
Fora e dentro inauguro o nome de que morro.
herberto helder 
le poème continu
somme anthologique
institut camões / chandeigne
paris, 2002
Sem comentários:
Enviar um comentário