02 janeiro 2013

luis buñuel / bacanal




Carneiro de 125 pesetas,
caracóis abundantes, manuais como o ventre da mulher de 150 pesetas;
os pães que o pobre come
podem ser amassados desse ventre
e cozidos com fogo de polegares.

Quando cruzamos os polegares para formar uma harpa
renova-se o martírio de S. Bartolomeu,
que, souberam depois, era um diabo
ou um fauno
que se ria da cruz.

Ao morrer comeram-no umas formigas de ouro
que tinham carne de moura
e cu de bailadeira.
S. Bartolomeu e o fauno dançavam
enquanto as pedras saíam disparadas da terra
como beijos atirados com a ponta dos dedos.

Do túmulo de S. Bartolomeu sai uma espiga de bronze
por cada beijo que pôde e não quis roubar.



luis buñuel
poemas
trad. de mário cesariny
arcadia
1977


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