21 dezembro 2012

adrienne rich / despertar nas trevas




5.

Toda a noite sonhando com um corpo
que o espaço verga de outro modo que o meu
Fazemos amor na rua
o trânsito corre para longe de nós
arrepiando como um lençol
o asfalto agita-se com ternura
não há qualquer apreensão
movemo-nos em conjunto como plantas subaquáticas

Uma e outra vez, começando a despertar
Mergulho de costas para te descobrir
sussurrando ainda, toca-me, continuamos
fluindo através desse lento
oceano da floresta de luzes da cidade
agitando a capilosidade do corpo.

Mas isto é o que se diz em sonhos
despertando
gostaria que houvesse um espaço
real em que nos pudéssemos situar
passando-nos os binóculos
olhando para a terra, a lenha
onde começou a racha.




adrienne rich
diving into the wreck, 1973
tradução de margarida vale de gato




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