Era a forquilha, de todas as alfaias, 
A mais parecida com a perfeição imaginada: 
Quando apertava a mão erguida e apontava 
Ele sentia-a certeira e leve, como um dardo. 
Brincasse, então, de atleta ou de guerreiro, 
Ou trabalhasse a sério na palha e no suor, 
Ele adorava-lhe a textura, a cor do freixo 
da fina haste acetinada pelo uso. 
Aço batido, madeira ao torno, lustre, toque 
Do que é suave, recto, brando, luzente e esguio. 
Suado, afiado, calibrado, posto à prova. 
Em dinâmica tensão, presto e exacto. 
E se ele pensava numa sonda nos confins, 
Via o cabo de uma forquilha navegando 
Serena, imperturbável pelo espaço, 
Estrelas nas pontas e em silêncio absoluto - 
Mas aprendeu enfim a seguir tão simples pista 
Além do seu alcance, para um outro lado 
Onde a perfeição - ou quase isso - se imagina 
Na mão a abrir, que não a apontar. 
seamus heaney
a rosa do mundo 2001 poemas para
o futuro
tradução rui carvalho homem  
assírio & alvim
2001 
Sem comentários:
Enviar um comentário