26 abril 2012

ángel campos pámpano / a lição






que eu não esqueça nunca
a 1uz que me ensinaste

a que ascendia do fundo
da tua antiga inocência
e transbordava
o espaço colocado
entre tuas coisas e as minhas

que nunca esqueça
certas palavras tuas
que falavam da tua gente
dos dias de cinema
do pai
da guerra
de duas mulheres sozinhas tanto tempo

é essa zona intacta da tua voz
onde não chego
tua presença e a minha
o mundo que respiras
o desse menino
sentado entre as pedras 
atentos os seus olhos
ao brilho dos teus olhos

hoje a tua voz contida
une-me mais
às palavras que não percebo

a leve passagem da tua voz
fura o ar e vibra
expande-se
mais aquém da luz que antecede
o rosto dessa infância sem testemunhas

emudecia sempre quando menino

porém se tu falavas nascia outro silêncio





ángel campos pámpano
traduçáo de antónio cândido franco
diversos nr. 15
2009

1 comentário:

  1. Gostei do poema.E pensei no que foi a vida do Miguel Portas.É que o poema podia ser-lhe também dedicado.
    Obrigada pela boa poesia que vem colocando.

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