31 março 2012

susete fetal / juiz de mim

  



A cada segundo que passa,
se alastra a base de dados
dos perpétuos processos no tribunal,
aguardando a Justiça,
esse presunçoso ideal.
Rectifico as estrofes infinitas
das Leis iníquas
do meu código pessoal.
Cada ser humano em que reparo,
peça permutável no puzzle:
réu, testemunha, inocente, condenado...
Destrinço cada insignificante artigo
num rol de inúteis argumentos,
emaranhado de razão e sentimentos.
Ignoro os ocultos perigos
nas letras pequeninas dos contratos.
Aprovo pactos com o inimigo
e, destroçada pelo remorso,
interpelo recurso
na ilusão de sepultar os meus actos.
Acuso, ao acaso, inocentes.
Absolvo, cúmplice, cadastrados
que dão sorrisos como presentes
a um coração tão pouco imparcial...
O Bem e o Mal,
alegadamente, os actores principais,
faces da mesma moeda
cunhada em acordos banais.
Assino veredictos freneticamente,
numa corrida contra o tempo galopante,
para que a consciência sentida
não me acuse, involuntariamente,
de deixar prescrever a minha vida!...





susete fetal
oficina de poesia
nr. 1 série II
junho de 2002
coimbra

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