01 dezembro 2011

manuel de freitas / pensão mar lindo, 206




Talvez já tenha falado disto.
As horas de noite ainda
numa pensão litoral, fugindo
ao desespero que me abraça.
Não, não tenho mais metáforas.
O teu corpo, mesmo, foi uma
salvação indevida. Acontece.
Acontece muito, aos corpos.

Das almas não sei falar ─ mas
ouço o mar, o tecno vindo
de um bar onde outros (mais
felizes?) agora se engatam
e adiam a manhã e a morte,
sob a frágil ameaça de Setembro.

É lá com eles, lá comigo, a
casa para onde regressam
ou o lugar esquivo que não tenho.
Tanto faz ─ e antes felizes, claro,
como eu julguei ser na tristeza
de outros meses acabados.

Não me importa. Nunca estive
aqui. Que os vinte e cinco
anos do teu corpo não soçobrem
tão depressa, tão mal assim
─ entre ruídos que não sei.






manuel de freitas
[ sic ]
assírio & alvim
2002




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