15 dezembro 2011

luís filipe parrado / o tempo que faz






Os velhos sentam-se neste banco
a avaliar o tempo que faz encostados a uma empena
escura, mais antiga do que eles. Também eu,
escondido na sombra, deixei para trás
a luz das dunas. A visão pinta com cores cegas
o lugar onde a alegria se desfez, uma história
de águas perdidas no coração da terra.
O fim de um amor é como um sonho.
Ainda hoje o fumo dos cigarros me sabe
melhor pelo sopro da manhã
depois de um sono sereno. As limalhas radiantes
no túnel mostram como se cai no limbo negro do horizonte,
no rio espesso após o crepúsculo.
Sim, soube tarde de mais o que podia dizer
da minha vida, com a boca fechada por correntes
e trapos estava simplesmente morto.
Como os velhos que continuam sentados neste banco
acordo a tempo de comprar algum pão
e varrer do passado o teu rosto, uma promessa estilhaçada,
um grão de juventude que me guia com uma pequena luz
que só no vento destas palavras se mantém.




luís filipe parrado
criatura
nr. 4
2009





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