04 dezembro 2011

isabel meyrelles / o marinheiro em terra





IV

O Havre era azul de sol
cinzento só nos teus olhos
e na torre radar
grandes barcos
deixavam tranquilamente
o porto
iam todos para o Brasil
na praia seixos desconfortáveis
e o teu corpo imóvel
junto do meu
ocultos pelas crianças
e pelos transístores
os outros
o teu corpo tinha um gosto salgado
de lágrimas recolhidas
um paladar de saudade
a areia rangia entre os meus dentes
à noite fomos ao cinema
na avenida ao alto
as árvores fechadas à chave
como os assassinos
e os marinheiros rebeldes
em baixo
o molhe cercava cegamente o mar
toda a noite
ouvimos as sereias





isabel meyrelles
trad. do francês por natália correia
rosa do mundo
2001 poemas para o futuro
assírio & alvim
2001



1 comentário:

  1. Olá, gosto muito do blog. Aceitas contribuições de poetas inéditos? Um abraço,

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