14 setembro 2011

michel deguy / europa em lisboa






O amor libertou-se da prisão do Amor
Olha. Sobra este belo vazio
de amor esvaziado. Este lenço de mármore
que a amante agitava ao oceano agitado
ou a amante cativa ao trovador cativo


E agora descreve o castelo de água pétrea

O castelo da vigia capitã
Que levou Renascentes a pensar em feudal
cumprido voto de um príncipe cumprindo o verso de Gôngora
essa “Torre de vento em rareza construída”

E agora
O liso tapete do Tejo alisado a seus pés se retira
O saber retirou-se também
Como jusante sob secura ignara
Onde notícias espalham uma espuma de datas

Da Torre de Belém à Torre de Stephen
Não quero maldizer o sentido da visita
Que autoriza o ticket cultural poliglota
Ali segui no ascensor a mulher da limpeza

Cuja função é manter este vazio bem vazio
Atar o laço da pedra ao terceiro patamar
Arrumar turbantes, de pedra escudos de pedra
         de sultão, de cruzado
                                          preparar o regresso
de Amor que não volta





michel deguy
trad. sophia de mello breyner andresen
sud-express
poesia francesa de hoje
relógio d´água
1993



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