11 julho 2011

virgínia woolf / mrs. dalloway

 
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Uma terrível confissão (pôs novamente o chapéu), mas a verdade é que, agora, aos cinquenta e três anos, quase que não se precisa dos outros. A vida em si, cada momento da vida, cada gota sua, aqui, neste instante, agora, ao Sol, era suficiente. Demasiado, até. Uma vida inteira, agora que está adquirido o poder, era demasiado curta para se lhe gozar todo o sabor; para extrair-lhe cada grama de prazer, cada sombra de sentido; uma e outra coisa muito mais consistentes que antes, muito menos pessoais. Impossível que ele pudesse sofrer de novo como Clarisse o fizera sofrer. Passava horas e dias sem pensar em Daisy.

Amaria, então? Mas onde a desolação, a tortura, a extraordinária paixão daqueles dias? Era uma coisa completamente diversa – uma coisa muito mais agradável – pois a verdade era que ela agora estava enamorada dele. Foi talvez por isso que, quando o navio zarpou, sentiu um extraordinário alívio e o que mais desejara era estar sozinho, e aborrecera-lhe achar na cabina todas as atenções dela – cigarros, papel, uma manta de viagem. Todos, se fossem sinceros, diriam o mesmo, não se precisa dos outros depois dos cinquenta; não se precisa andar a dizer às mulheres que são lindas; eis o que a maioria dos cinquentões devia confessar, pensou Peter, se fossem sinceros.
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virgínia woolf
mrs. dalloway
trad. mário quintana
livros do brasil
1954
 
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