20 setembro 2010

amadeu baptista / cúmplices





20.

Este será o coração da partida, o olhar
que em silêncio incendeia a árvore
e faz a pedra pulsar. A eterna carícia
e o último despojamento
quando a luz inaugura a doçura, esse rumor
inquieto na solidão, o corpo extenuado
que se rende à terra e cede ao enigma
do fogo e à magia do vento.

Neste vocábulo planto um arbusto de sangue, a mais secreta
gruta em que me despeço das aves, a extensa brancura
do primeiro fascínio da tua pele
a que regressarei para sempre
após a faca lentíssima no peito
e os veleiros imponderáveis de Aland
onde me encontro e me perco
para a extrema cumplicidade do amor e da morte.







amadeu baptista
cúmplices
nova renascença vol. XVI
inverno / outono de 1996
fundação eng. antónio de almeida
1996







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