20 agosto 2010

josé luis garcía martin / aqueles dias de verão








Estava de verdade
muito só naqueles dias
de verão. Á noite
sentava-se à janela comigo,
desgrenhada, descalça, suada
à espera de um fresco amanhecer
que não chegava nunca.

Chegaste, porém, tu,
arcanjo de trevas, sanguinário e belo,
portador de uma cega sentença.
Com o punho batias
ao portão incapaz de dormir. Aqui
não vive ninguém.
Cavernosa a voz
e com susto a noite, as estrelas
aziagas. É um morto quem vive
nesta casa. Que Deus o ampare,
irmão.

E amparaste-me tu
no fundo de um poço
sem ar e sem ninguém.








josé luís garcia martin
trípticos espanhóis 1º.
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
1998






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