23 dezembro 2009

raul brandão / tudo o que me podes dizer






Olhava este momento que ia desaparecer, com saudade – porque nunca mais se repetiria no mundo. Nunca mais outro segundo igual nem na luz, nem na vibração, nem na ternura…
O momento em que me sorriste, baloiçado entre o nada e o nada, nunca mais se voltaria a repetir, idêntico e completo, em todos os séculos a vir! Estava ali a morte… está aqui a vida. Agora pergunto a mim mesmo se te deixo morrer; e a pergunta obsidia-me e exige resposta imediata. Sei tudo, tudo o que me podes dizer – já eu o disse a mim próprio. Até hoje falava a alguma coisa que me ouvia, hoje só interrogo a mudez, só a mim próprio me interrogo.





raul brandão
húmus
(novas máximas)
frenesi
2000








3 comentários:

  1. costumo levar 'coisas' daqui comigo. acho que vou levar esta também,
    parabéns pelas escolhas!

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  2. Linda prosa poética!

    Momentos vividos, vívidos na memória!

    Parabéns.

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  3. Trabalho em pesquisa literária e, passam por mim centenas de autores.
    Embora me seja difícil escolher dado a qualidade de muitos, Raul Brandão figura sem dúvida no topo.
    Muito bonita esta P.P.

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