15 janeiro 2009

saint-john perse / elogios xvi





… Aqueles que são antigos na região, são levados, muito cedo, a empurrar o postigo e olhar o céu, o mar que muda de cor e as ilhas, dizendo: o dia será belo a julgar por esta aurora.

E logo depois é o dia! E as chapas dos telhados acendem-se num frémito, e a baía é abandonada à angústia, o céu à fluência, e o Contador precipita-se na insónia!

O mar, entre as ilhas, é rosa de luxúria; o seu prazer é assunto a discutir, pode-se tê-lo por uma colecção de pulseiras de cobre.
Crianças correm nas margens! Cavalos correm nas margens! …um milhão de crianças servindo-se das suas pestanas como guarda-sóis… e o nadador

tem uma perna na água tépida mas a outra pesa numa corrente fresca; e as gonfrenas, os ramis,
os acalefos de flores verdes e essas pílias de tufos apertados que são a barba dos velhos muros
enlouquecem sobre os telhados, nas bordas das goteiras,

pois um vento, o mais fresco do ano, levanta-se nos lagos das ilhas que se azulam,
e, espraiando-se até estas rochas planas, as nossas casas, corre no interior do ancião
até ao lugar cheio de crinas que há no peito.

E o dia iniciou-se, o mundo
não é assim tão velho que, de repente, não tenha rido…


*

É então que o cheiro do café sobe a escada.








saint-john perse
elogios
trad. jorge melícias
quasi
2002








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