Escrever é, para mim, tentar desfazer nós, embora o que na realidade acabo sempre por fazer seja embrulhar ainda mais os fios. A própria caligrafia é sufocada.
Há, todavia, um momento em que as palavras são cuspidas, saem em borbotões, e o sangue e a saliva impregnam o sentido. É impossível separá-los.
Por trás talvez não haja mesmo nada. São palavras que não estão ginasticadas, que secam e encarquilham como folhas por que a seiva já não passe.
Oprimem toda a página, através da qual deixa de ser possível respirar. Tapam-lhe os poros. A própria chuva que neles caia não se escoa.
luís miguel nava
poesia completa (1979-1994)
rebentação
publicações dom quixote
2002
A guisa de comentário:
ResponderEliminarEu sou um nó
eu sou um nó
de tantos nós
outros formado
com você.
eu sou um só
de tantos sós
outros acompanhado
por você.
eu sou um pó
de tantos pós
outros incorporado
de você.
eu sou um dó
re mi fa e só
você me ouve,
só você.
todo nó eu sou
entre eu mesmo
e você: meu amor.
todo nó, todo amor
todo nós, todo amor.
Ramon Alcântara
Por vezes me embaralho nos nós de minhas escritas e me vejo presa sem saber como desatá-los.
ResponderEliminarEssa é a arte dos nós.
Beijos de chuva.
Nós entre nós apenas temos a arrumação e a temporização das palavras. Enquanto isso procuro nós de alfabetos aos quais me amarrar. Em ti encontrei mais um para enlaçar-me.
ResponderEliminarUm abraço
Vim pela "Acta de violino". Não sei se por se atar à acta um nó em que nunca reparara, se por um qual-
ResponderEliminarquer dolente dó do violino... Vim, é tudo! Parabéns! A imagem, como baraço desatado, na sua dúplice forma: a que mostra e a que diz... mas dizer não é mostrar também? Mais um nó! Vou assinalar a trama do caminho p'ra não esquecer o regresso...A propósito, se passar no "sítio onde habito" ( www.adispersapalavra.blogspot.com)
não precisa bater - tudo ali "É" de passagem!