Por quanto em mim
De ti havia
Que a alma me enganava
Em nova vida
Dei a sombra
Que me queimava
E era minha,
Mas mesmo assim
Não me seguia.
De tanto querer
Achei em mim
A pessoa querida
Que eras tu,
E assim esqueci
Por completo
Quem era
Ao certo
Quem te queria.
Era eu,
Fui sempre eu
Que tu,
A ver comigo,
Que com o meu amor,
Nada eras
E nada tinhas.
Por muito ter amado
Em tão pouca coisa
Percebi quanto doía
O que também me era dado:
Amar sem querer mais nada
E deixar-me ficar
Só por ti.
Em vez de também me dar
Para teu mal
E para meu,
Calava-te,
Amava-te,
E mais não fiz
Senão isto,
Que tu um dia dirás
Se é verdade ou não,
Calava-me, amava-te:
Recebia-me.
E ia deitando tudo fora,
Tudo o que foi teu
E me foste dando,
À medida que mo davas.
Como havia de guardar
O que não me pertencia?
Fui recebendo.
Depois dei por mim
E sabes que mais?
Morria.
Alguém morria.
Por tudo o que uma vez foi teu
E teu, apenas,
Amor,
Alguém morria
Mas era alguém
Que não era eu.
miguel esteves cardoso
apeadeiro
revista de atitudes literárias
primavera de 2002
Entro aqui, como quem entra num lugar onde as palavras respiram por todos os poros. São sublimes todos os poemas que nos oferece.
ResponderEliminarobrigado
m.m.