07 janeiro 2007

gil t. sousa



sopro




eu era o sopro
de um muito antigo grito

sobrava-me a doçura
de uma catedral imperfeita

um silêncio sem luz
morto nas paredes ideadas

tinha torres sineiras
palavras altas

muito para além dos signos
e que entravam nas cidades

pelo seu lado mais escuro
até se tornarem leis


tu não sabes
mas eu era a sombra

que dedilha os vitrais
a invisível música

das nascentes de pedra
eu era a torrente

que alaga o sonho
dos sábios

a rocha de sangue
com que se tecem

os caprichos
dos reis






gil t. sousa
"poemas"
2001







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