13 novembro 2006

um poema de: sylvia plath

a lua e o teixo



Esta é a luz da razão, fria e planetária.
As árvores da razão são negras. A luz é azul.
As ervas descarregam as suas mágoas nos meus pés como se
[eu fosse Deus,
Picando os meus tornozelos e murmurando a sua humildade.
Esfumadas, inebriantes neblinas habitam este lugar
Separado da minha casa por uma fileira de lápides.
Só não consigo ver para onde se vai.

A lua não é nenhuma porta. É um rosto em seu pleno direito,
Branco como os nós dos dedos e terrivelmente transtornado.
Arrasta o mar atrás de si como um delito obscuro; silenciosa
Com a boca em O num esgar de total desespero. Vivo aqui.
Duas vezes aos domingos, os sinos assustam o céu -
Oito línguas enormes a afirmar a Ressurreição.
No final, fazem soar os seus nomes sobriamente.

O teixo aponta para o alto. Tem forma gótica.
Os olhos seguem-no e encontram a lua.
A lua é a minha mãe. Ela não é doce como Maria.
As suas roupas azuis libertam pequenos morcegos e corujas.
Como eu gostaria de acreditar na ternura -
O rosto da efígie, dulcificado pelas velas,
A desviar para mim, em particular, os seus olhos ternos.

Caí muito longe. As nuvens a florescer
Azuis e místicas sobre a face das estrelas.
Dentro da igreja, os santos vão ficar todos azuis,
A pairar com seus pés delicados sobre os bancos frios,
De mãos e rostos rígidos pela santidade.
A lua não vê nada disto. É calva e selvagem.
E a mensagem do teixo é a escuridão - escuridão e silêncio.





sylvia plath
ariel
trad. maria fernanda borges
relógio d´ água
1996




07 novembro 2006

estações

13 )


os que se perderam



que rebentem estradas
sob os pés
dos que se perderam

que nos seus olhos gelados
cresçam fogueiras

*

que este silêncio se curve
como um animal sem voz




gil t. sousa



andrei tarkovsky / porque o destino





Porque o destino seguia-nos o rastro
Como um louco com uma navalha na mão.





Arsenii Tarkovskii
“8 ìcones”
Assírio & Alvim
1987


04 novembro 2006

citações



stig dagerman



(…)

Por vezes, à beira-mar, no perpétuo movimento das águas e no eterno fugir do vento, sinto o desafio que a eternidade me lança. Pergunto-me então o que vem a ser o tempo, e descubro que não passa do consolo que nos resta por não durarmos sempre. Miserável consolo que só os Suíços enriquece...
Noites há, em que, sentado à lareira, no quarto mais resguardado de todos, sinto subitamente a morte cercar-me: no fogo, nos objectos pontiagudos que me rodeiam, no peso do tecto e na massa das paredes; na água, na neve, no calor, no meu sangue. Pergunto-me então o que vem a ser a nossa muito humana sensação de segurança, e percebo que não passa de um consolo para o facto de a morte ser o que há de mais próximo à vida. Pobre consolo, que não cessa de nos recordar o que desejaria fazer-nos esquecer!
Decido encher todas as minhas páginas em branco com as mais belas combinações de palavras que seja capaz de engendrar. E depois, porque quero assegurar-me que a vida não é absurda e não me encontro só sobre a terra, reúno todas num livro e ofereço-o ao mundo. Este, retribui-me com a riqueza, a glória e o silêncio. Mas não sei que fazer com este dinheiro nem que prazer tirar de contribuir para o progresso da literatura, pois só desejo o que jamais obterei — a certeza de que as minhas palavras tocaram o coração do mundo. É então que me pergunto o que vem a ser o meu talento, e descubro que não passa de urna forma de me consolar da solidão. Risível consolo — que apenas me torna cinco vezes mais pesada a solidão.
Nesse animal que, veloz, atravessa a clareira, sou por vezes capaz de ver encarnada a liberdade e ouvir uma voz que me insinua: «Vive com simplicidade, frui do que desejas e não temas as leis»! Excelente conselho. Mas de que se trata senão de uma forma de consolo para o facto da liberdade não existir? Impiedoso consolo — para quem sabe que o Homem levou milhões de anos para não conseguir ser senão um lagarto, podre de indiferença!
Quando, por fim, me apercebo que esta terra é uma vala comum, onde Salomão, Ofélia e Himmler repousam lado a lado, concluo que tanto o crápula como a infeliz têm o mesmo fim que o sábio. Por isso, para uma vida falhada, a morte pode tornar-se numa forma de consolo — e bem atroz, sobretudo para quem na vida queria encontrar forma de vencer a morte.

Não possuo filosofia, em que possa mover-me como o peixe na água ou o pássaro no céu. Tudo em mim é um duelo, uma luta travada a cada minuto da vida entre falsas e verdadeiras formas de consolo. Umas não fazem senão aumentar a impotência e tornar-me mais fundo o desespero, outras são fonte de temporária libertação. Falsas e verdadeiras! Deveria antes dizer verdadeira, pois só existe uma consolação verdadeiramente real: a que me diz que sou um homem livre, um indivíduo inviolável, ser soberano no interior dos seus limites.
Mas a liberdade começa na escravidão e a soberania na dependência. O sinal mais vivo da servidão é o medo de viver. O definitivo sinal de liberdade é o facto de o medo deixar espaço ao gozo tranquilo da independência.
Dir-se-á que preciso de ser dependente para conhecer o gozo de ser livre! É certamente verdade. À luz dos meus actos, percebo que toda a minha vida parece não ter tido por objectivo senão construir o seu próprio infortúnio: sempre me escravizou o que devia tornar-me livre.
Outros homens têm outros mestres. A mim o talento torna-me escravo ao ponto de não ousar em pregá-lo — tal é o medo de o ter perdido. Mais: subjugo-me de tal modo ao meu nome, que mal me atrevo a escrever uma linha, não vá esta manchá-lo. E, quando se instala a depressão, é dela que sou também escravo. O meu maior desejo é retê-la. O meu prazer mais forte, sentir que tudo o que valho residia no que julgo ter perdido: essa capacidade de gerar beleza a partir do que é em mim desespero, desgosto e fraqueza. Com amargo prazer desejo ver ruir o que arquitectei e ver-me, eu também, envolto na neve do esquecimento. Mas quê? A depressão é urna boneca russa, e na última boneca estão a faca, a lâmina de barbear, o veneno, as águas profundas e o salto para um grande abismo. De todos esses instrumentos de morte me torno escravo. Perseguem-me como cães, a não ser que o cão seja apenas eu. Parece-me então ser o suicídio a única prova da liberdade humana.
Porém — não sei ainda de onde nem como — sinto que se aproxima o milagre da libertação. E a eternidade, que há bem pouco me assombrava, testemunha agora este acesso à liberdade: esta descoberta súbita e simples de que ninguém, nenhum poder, nenhum ser humano, tem o direito de me forçar ao ponto de secar em mim o desejo de viver.

Que é do mar se os rios se recusam?

(…)




stig dagerman
a nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer
versão de paula castro e josé daniel ribeiro
fenda edições
1989




30 outubro 2006

post it / m. f. s.

a perfeita canção do soldado



a perfeita canção do soldado arma-se nos olhos dos escondidos
daqueles que cegam à luz do meio-dia

a perfeita canção do soldado soa a marchas de botas apertadas
enche-se de alegre patriotismo

a perfeita canção do soldado faz cair os pés de barro
dos ídolos instalados nos gabinetes

a perfeita canção do soldado soa a marcha fúnebre
com botas brilhantes e apertadas


m.f.s.

25 outubro 2006

um poema de: marguerite yourcenar



Gherardo Perini



«Não irei mais longe, Gherardo.
Não te acompanho mais porque o trabalho urge
e eu sou um homem velho. Sou um homem velho, Gherardo.
Às vezes, quando te entregas mais à ternura,
chegas a chamar-me teu pai. Mas eu não tenho filhos.
Nunca encontrei mulher tão bela como as minhas figuras de pedra,
mulher que ficasse horas imóvel sem falar,
como coisa necessária que não precisa de agir para ser,
e nos faz esquecer que o tempo passa porque está sempre presente.
Mulher que se deixe olhar sem sorrir nem corar
porque compreendeu que a beleza é qualquer coisa de grave.
As mulheres de pedra são mais castas que as outras,
e mais fiéis, porém, são estéreis.
Não há fenda por onde se possa introduzir nelas o prazer,
a morte, ou a semente de uma criança,
e por isso elas são menos frágeis.
Por vezes quebram-se e em cada pedaço de mármore
fica contida a sua beleza inteira, como Deus
que está em todas as coisas,
mas nada de estranho entra nelas que dilate o seu coração.
Os seres imperfeitos agitam-se e acasalam-se para se completarem,
mas as coisas só belas são solitárias como a dor humana.



Gherardo, não tenho filhos.
Eu bem sei que a maioria dos homens não tem propriamente um filho:
têm Tito, ou Caio, ou Pedro, e não é a mesma alegria.
Se eu tivesse um filho,
ele não se havia de parecer com a imagem que eu dele formara
antes de existir. Assim também as estátuas que faço
são diferentes daquelas que comecei por sonhar.
Mas Deus permite-se ser conscientemente criador.
Se fosses meu filho, Gherardo, eu não te amaria mais,
mas não teria que perguntar-me porquê.
Toda a minha vida procurei respostas a perguntas
que talvez não tenham resposta e perscrutei o mármore
como se a verdade se encontrasse no coração das pedras,
e espalhei as cores para pintar muralhas
como se se tratasse de fixar acordes sobre um enorme silêncio.
Tudo se cala, sabes, até a nossa alma —
ou então somos nós que não ouvimos.



Assim, tu partes.
Na minha idade já não se dá importância a uma separação,
mesmo que definitiva. Eu bem sei que os seres que amamos e que nos amam mais
se vão separando insensivelmente de nós a cada momento que passa.
É também deste modo que se vão separando de si próprios.
Estás sentado sobre essa pedra e julgas-te ainda aí,
mas o teu ser, voltado para o futuro, não adere mais ao que foi a tua vida,
e a tua ausência já começou. É certo que compreendo
que tudo isto é ilusão, como o resto, e que o futuro não existe.
Os homens que inventaram o tempo,
inventaram por contraste a eternidade, mas a negação do tempo
é tão vã como ele próprio. Não há nem passado nem futuro
mas apenas uma série de presentes sucessivos,
um caminho perpetuamente destruído e continuado
onde todos vamos avançando.



Estás sentado, Gherardo,
mas os teus pés estão assentes no solo
com a inquietação de quem experimenta o caminho.
Estás vestido com trajes do nosso século,
que hão-de parecer feios ou simplesmente estranhos quando o século
tiver passado pois as vestes não são mais que a caricatura do corpo.
Vejo-te nu. Tenho o dom de ver através das roupas o irradiar do corpo,
que é como os santos vêem as almas, segundo penso.
É um suplício quando são feios,
mas é um outro suplício quando são belos,
dessa beleza frágil que a vida e o tempo atacam por todos os lados
e acabarão por tomar-te,
mas neste momento és dono dela e tua será na abóbada da igreja
onde pintei a tua imagem. Mesmo que um dia
o teu espelho te não mostre mais que um retrato deformado
onde não ouses reconhecer-te, existirá sempre noutro sítio
o reflexo imóvel de ti.
E desse modo imobilizarei a tua alma também.



Tu já não me amas.
Se consentes em ouvir-me durante uma hora
é porque somos sempre indulgentes com aqueles que vamos deixar.
Ligaste-me e agora desligas-me.
Não te censuro, Gherardo.
O amor de alguém é um presente tão inesperado e tão pouco merecido
que devemos espantar-nos que não no-lo retirem mais cedo.
Não estou inquieto por aqueles que ainda não conheces,
ao encontro de quem vais e que porventura te esperam:
aquele que eles vão conhecer será diferente daquele
que eu julguei conhecer e creio amar.
Não se possui ninguém (mesmo os que pecam não o conseguem) e,
sendo a arte a única forma de posse verdadeira,
o que importa é recriar um ser e não prendê-lo.



Gherardo, não te enganes sobre as minhas lágrimas:
vale mais que os que amamos partam quando ainda conseguimos chorá-los.
Se ficasses, talvez a tua presença, ao sobrepor-se-lhe,
enfraquecesse a imagem que me importa conservar dela.
Tal como as tuas vestes não são mais que o invólucro do teu corpo,
assim tu também não és mais para mim
do que o invólucro de um outro que extraí de ti e que te vai sobreviver.



Gherardo, tu és agora mais belo que tu mesmo.
Só se possuem eternamente os amigos de quem nos separamos.»




Marguerite Yourcenar
“O tempo esse grande escultor”
trad. helena vaz da silva
difel 2001

19 outubro 2006

post it / daniel delgado

Coisas de dentro


Os meus delírios,
confissões rimadas
de pessoas mimadas.
Preces ocas, suspiros.

Os meus assédios,
confissões caladas
de pessoas ignoradas.
Monte de sonhos perdidos.

Os meus demónios,
confissões quotidianas
de pessoas esteriotizadas
ultrapassando martírios.

Meus sentimentos doentios,
confissões irritadas
de pessoas maltratadas.
Nenhuma voz, apenas gritos.

E espero para poder falar...




Daniel Delgado

10 outubro 2006

estações

12)





Joan Miró. Dog Barking at the Moon.
1926.Oil on canvas. 73 x 92 cm. The Philadelphia Museum of Art, Philadelphia, PA, USA.





Dog Barking at the Moon, de Juan Mirró




Olhá-la
como um portal de luz por onde passam os sonhos
e chamar-lhe lua

depois
superar o céu até a noite não doer mais
e resolver o enigma da escada
como se cada degrau fosse feito de tempo
e cada minuto tivesse a forma do desejo

e cair na eternidade como o olhar de um cão




gil t. sousa
poemas
2001





26 setembro 2006

do outro lado do mar / chile


Rafael Farías Becerra

"...pues para fascinar mis amantes sedientos,
puros espejos tengo que hacen las cosas bellas:
mis grandes ojos y las eternas estrellas."
La Belleza.
Charles Baudelaire.




las maravillas del estelar

ahora que nos hemos cansado de sentirnos bellos
de admirar nuestro reflejo así
deseando tantas maravillas del estelar
nuestra vida en los reality
bailando a la luz electrodoscópica en el terreno eriazo
que diríamos
un nuevo espleen nos conmueve
a nosotros
los tan dados al show
a las delicadezas del espectáculo
quienes lo dejaríamos todo
por bailar tras el espejo



reinas de los corazones

todos íbamos a ser reinas de los corazones
no importando el precio de las famas
si cualquiera podría ser el escenario
para que nosotros desde abajo
les aplaudiéramos los escombros
les dibujáramos mientras el baile
la silueta de estrellita poblacional
y el beso bajo los reflectores
la única ilusión
de sacarle otra sensación al juego
que no fuera la marginalidad de estos lares




&

Marcos Arcaya Pizarro



cuanto de razón tengo
se me pierde
vengo en ti
una boca
2 bocas
se me parte
los más queridos estos
del suelo en lo oscuro se quedarán
. .......... . y sepultados
que el otro mundo es este
y no se iguala ninguno
al pavimento eterno de su gloria
PORQUE YO ME enserio
y salgo
lloro
también
un poco
. .......... . lloro
pienso y no
sucio soñar de barro
a veces o ceniza
(un nicho helado)
DE MI dentro
TODO HUECO LO GUARDO
lo atesoro casi
me regio
y salgo
pero tanto duele tanto
al pie de mi cama
tanto

el tiempo trepa
de mi cara
salto
PERO trepa

EL ROSTRO MIO/el suyo
mi cara se me va
pienso y no
lo atesoro casi LA
una canción
mi ama
mi cholita
. .......... . MI TRISTE

CÁNTAME
en lengua mestiza
. .......... . de muy del sur
así como Chile
tan profundo rueda por mí
el amor que no existe
canta. .......... . me
nada existe
dentro
estas torres
su mugre
tan tan yo
ESTA MUGRE
tantas cosas amé
se esclarece
me abre
mi mugre mi sucio yo
el sentido sin
MI ÁNGEL
. .......... . MI MUY SUCIA
bendito corazón llagado suyo en cada pecho sí
los huesos soldados por trapos y las cursilerías
lágrimas nuestros llantos en amargo se les nombrará
un día milagros de santos pero no
Por estos halos tenues los
dientes podridos
libaciones de sangre por su costra
en las manos
de fondo por lo alto las montañas insanas
donde veo colores
mil desierto siempre
de mi cara

19 setembro 2006

do mesmo lado do céu




1/3 dos leitores ou visitantes desta página são oriundos da América Latina: Brasil, Argentina, Chile, Peru, Uruguay, México, Venezuela, Equador, Colômbia… Têm-me escrito, demonstrando apreço pelo que aqui se tem publicado, enviado textos, partilhando experiências de escrita.

Hoje apetece-me saudar toda essa gente do lado de lá do mar, porém do mesmo lado do céu.





12 setembro 2006

post it / m. f. s.



conta-me histórias de terror
das que arrepiam as articulações
histórias às cores fantasmagóricas
com suaves ectoplasmas
com muito ketchup
negrumes pelos cantos
e abismos

conta-me histórias de plástico
americano com perucas perfuradas
babas luminescentes
suspensas nas teias
pré-fabricadas
vítimas deliciadas
carrascos amedrontados

conta-me a versão revista
e ampliada da menina de capuz
sanguinolento
dentes de loba
adolescente
vestidinho de boneca assassina
diz-me como foi
que ela conseguiu
escapar à feroz avozinha

conta-me tudo
com muitos pormenores
não te enganes na sequência
que te farei repetir tudo
até o arrepio voltar




m.f.s.



11 setembro 2006

new york, 11 de setembro de 2001




O que mais assusta nesta data é que, muito provavelmente, ela ficará na História como a fronteira entre um tempo em que o mundo ia mudando pela força do pensamento dos homens e um outro bem mais obscuro em que os homens mudam o pensamento pela força do mundo.



gil t. sousa

05 agosto 2006

um poema de: rené char

fastos




O Verão cantava sobre a sua rocha preferida
quando tu me apareceste,

o Verão cantava afastado de nós
que éramos silêncio,
simpatia,
liberdade triste,
mar
mais ainda do que o mar,
cuja enorme comporta azul
brincava aos nossos pés.

O Verão cantava
e o teu coração nadava longe dele.
Eu beijava a tua coragem,
entendia a tua perturbação.

Estrada através do absoluto das vagas
em direcção a esses altos picos de escuma
onde navegam virtudes assassinas
para as mãos que seguram as nossas casas.

Não éramos crédulos.
Éramos rodeados.

Os anos passaram.
As tempestades morreram.
O mundo partiu.

Sofria
por sentir que era o teu coração que já não me conhecia.

Eu amava-te.
Na minha ausência de rosto e no meu vazio de felicidade.

Eu amava-te,
mudando em tudo,
fiel a ti.




rené char
furor e mistério
trad. margarida vale de gato
relógio de água
2000