e naquele outono frio estive com antónia pela última
vez em singapura. Cloé cambaleava drogada à
nossa frente na manhã que raiava. Um estranho
país, a índia, onde vagos coronéis se queimavam
vivos uma praça, execuções quase diárias, apenas
um exemplo. Céline teria gostado disto. Ou das
casas amarelas no outono, ou da bomba que
destruiu uma noite a fachada da casa do
governador. Antónia, suas mãos. O gelo dos olhos
valia o ouro do corpo, o sangue do céu, a
economia morta. Grande era a tendência para
passar fome. O mal de Cloé era a sua anemia
impiedosa, o que ela tinha que suportar pela
altura das chuvas. Nos dias históricos enviava-me
o meu pai, pontualmente, uma madeixa
do seu bigode, uma perfeita imposição de respeito.
A minha força filial era, por seu turno, enorme.
Não – dissera eu a antónia mas ela nem sequer
falara.
A sua voz (antónia) podia
sair da garganta ou do ventre, indistintamente.
Não que ela fosse ventríloqua, mas o
certo é que sofrera muito. Dachau, provavelmente.
Ou um outro lugar, muito pior, que não
chegara à celebridade. Eu, pessoalmente, não
desejava confessara cloé o meu imenso amor. Mas
houve um dia em que tive que o fazer. Em
singapura, como sabem, não há mar. O índico
porém, baila nas pupilas da branca cloé, e
o incêndio da sua casa, na virgínia.
Episódios da guerra civil. Cloé,
antónia, o meu pai, eu, Céline
e coronéis carbonizados. Quando pela ultima vez
em baden-baden olhei na rua antónia e
cloé morta sem sangue, que antónia levava
pela mão.
rui diniz
ossuário
(ou: a vida
de james whistler)
& etc
1977