05 outubro 2007

folhas de hipno


222


Minha raposa,
pousa a tua cabeça sobre os meus joelhos.

Eu não sou feliz e no entanto tu bastas.
Castiçal ou meteoro,
já não há na terra coração grande ou futuro.

Os passos do crepúsculo revelam o teu murmúrio,
albergue de hortelã e alecrim,
confidência trocada entre as sardas do Outono
e o teu vestido ligeiro.

És a alma da montanha com profundos flancos,
com rochas mudas por trás de lábios de argila.

Que estremeçam as tuas narinas.
Que a tua mão feche o caminho
e aproxime a cortina das árvores.

Minha raposa,
na presença dos dois astros,
o gelo e vento,
deposito em ti todas as esperanças desmoronadas,
por um cardo
que vença a solidão rapace.





rené char
furor e mistério
trad. margarida vale de gato
relógio de água
2000



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