24 agosto 2022

víctor botas / falam da natureza

 
 
Falam da natureza, e que é bela
– dizem sem mais razões –; eu prefiro
falar de um caos, aziago e feroz,
sem ordem nem plano nem outra coisa
além deste cego acaso que nos acossa
a golpes de cachaço. Quero deixar
muito claro nesta página: não espero
do temporal em turbilhão que graciosa-
mente prodigue paz. Serão seus golpes
mais duros se, julgando estar muito bem,
só esperar lisonjas: dura nora
move o ritual do tempo, golpe a golpe.
Há, contudo, instantes, sinais, coisas
que misteriosamente, são belas.
 
 
 
víctor botas
poesia espanhola de agora vol. I
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
1997




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