30 janeiro 2020

sylvia plath / berck-plage



I

É então isto o mar, esta enorme suspensão.
Como o remendo do sol evidencia a minha queimadura.

Sorvetes de cores eléctricas, tirados da geladeira
Por raparigas pálidas, andam pelo ar em mãos queimadas.

Por que está tudo tão silencioso, que estarão a esconder?
Tenho duas pernas e movo-me sorridentemente.

As covas na areia destroem vibrações;
Estendem-se por quilómetros, vozes já quase sem som

Acenando sem suporte, metade da altura que tinham.
As linhas dos olhos, escaldadas por estas superfícies nuas.

Bumerangue preso por elásticos, ferindo o dono.
É de admitir que ele ponha óculos escuros?

É de admitir que ele exiba sotaina preta?
Aí vem ele no meio dos apanhadores de cavala

Que se põem como um muro à sua volta.
Agarram nos losangos pretos e verdes como se fossem bocados
     de um corpo.

O mar, que tudo isto cristalizou,
Afasta-se lentamente, como as serpentes, soltando um longo
     e triste silvo.


sylvia plath
ariel
trad. maria fernanda borges
relógio d´ água
1996





1 comentário:

Margarida Pires disse...

O mar é cristalino tudo nos dá. Mas por vezes no silêncio tudo nos tira.
Brinca com o tempo e é nobre de espírito.
Continuação de uma boa semana.
Um sorriso de luz.
Megy Maia