24 fevereiro 2015

josé gomes ferreira / ouve, tu que não estás no céu


                    (Prelúdio, em forma de grito, para
                    um livro de confissões pessoais que
                    nunca escreverei.)


XXII

Ouve, tu que não estás no céu:

Estou farto de escavar nos olhos
abismos de ternura
onde cabem todos
- menos eu!

Estou farto de palavras de perdão
que me ferem a boca
dum frio de lágrimas quentes de punhal!

Estou farto desta dor inútil
de chorar por mim nos outros!

- Eu que nem sequer tenho a coragem de escrever
os versos que me fazem doer!



josé gomes ferreira
poesia II
pessoais 1939-1940
portugália
1962